Temos tendência a pensar que foram as modernas técnicas e os estudos científicos que trouxeram a vinha e o vinho para o patamar em que se encontra. Em grande parte, é verdade; hoje sabemos muito sobre os solos, o clima, a interação entre a planta e o ambiente e sobre fermentações, leveduras, estágios e barricas. No entanto, algumas inovações poderão ser fruto do acaso e da observação da Natureza. O homem acumula saber de experiência feito que depois melhora e transmite às gerações vindouras. Vem isto a propósito de uma pequena rubrica inserida no “Diário de Lisboa”, de 30 novembro de 1967. O Ribatejo estava alagado com as cheias, e o jornal, além das notícias, manteve as colunas habituais. Numa delas, “A França e o Bom Vinho”, com pequenas ilustrações, se dava conta de assuntos relacionados com a história do vinho. Nesse dia contava-se que Rabelais afirmou que os burros da abadia de Marmoutiers, perto de Tours, entraram de rompante na vinha e comeram folhas e rebentos das videiras. Julgando a colheita perdida, os monges verificaram, meses mais tarde, que as videiras tinham rebentado com mais vigor. Crê-se que a poda terá sido assumida como parte integrante do tratamento da vinha. Contou-me um ex-aluno de Rogério de Castro (ISA) que ele acrescentava a esta tese dos burros (história já antiga, portanto), a história das ovelhas que a seguir à vindima entravam na vinha e faziam aquilo a que hoje chamamos pré-poda.
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Da história dos vinhos: se recuarmos muito, só paramos na Bíblia
O que têm os burros e as ovelhas a ver com o vinho? A tradição oral (e não só) ajuda a desvendar segredos