O que poderia dar para o torto numa semana de férias num paradisíaco resort de luxo? Tanta coisa... Sem se deixar corroer pela abordagem xaroposa tão comum neste tipo de história, “The White Lotus” coloca-nos, em seis intensos episódios, perante um grupo de personagens que espelham, de forma mais ou menos subtil, a eterna luta de classes. Uma família disfuncional, um casal em lua de mel e uma mulher enlutada (e descompensada) são-nos apresentados como os três núcleos em torno dos quais a trama se desenrola. São, também, uma espécie de animais de zoo, observados de forma atenta, e com uma boa dose de cinismo, pelos trabalhadores da estância balnear, especialmente o gerente Armond (Murray Bartlett) e Belinda (Natasha Rothwell), a responsável do spa.
O conflito aberto entre Shane (Jake Lacy), o homem rico, cheio de si e sem ver muito para lá do próprio umbigo, e Armond, sempre pronto a valer-se do seu pequeno poder, é tão intenso, a dado momento, que quase conseguimos ouvi-los a rosnar um para o outro. Pode até ser essa a face mais visível do embate entre o privilégio e a subjugação, mas “The White Lotus” aborda, de forma menos chapada, problemáticas raciais e de género sem que delas saiam lições de moralismo bacoco.