Quais são, ou quem são, os objectos principais de “Os Objectos Principais” (1979)? Os “objectos” em sentido estrito surgem o mais das vezes no contexto de imagens, tão obscuras ou insólitas como as de Herberto Helder: “o rumor dos alicates na gaveta branca”, a “alta insensatez dos aquedutos”, os “altos telégrafos da impaciência”, mas incluem também palavras de ordem, sapatilhas, postais antigos, uma canção. Um verso admite: “inventei os objectos principais”, provavelmente na medida em que qualquer desses objectos, conjugado com outro, ou com uma qualidade específica, se transforma em artefacto verbal, essa evidência dubitativa: “a cada coisa é permitido o justo sítio, enquanto dure/ o legado dos seus anos. pelo menos/ assim o deve supor a nossa imprevidência/ para que as horas adormeçam sem resto./ é inútil encostar o balde verde à outra parede,/ cairá pela certa. como duvidar as evidências?”
Exclusivo
Livros: Regresso ao memorável enigma de António Franco Alexandre
“Os Objectos Principais”, de António Franco Alexandre, escrito em 1979, surge agora numa reedição com posfácio da académica Joana Matos Frias. Poemas tão herméticos quanto dialogantes, em que o leitor é, também, um interlocutor