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Livros: Irão, a história de um falhanço

“Irão”, do académico britânico Ali M. Ansari, ocupa-se dos quase 120 anos desde a Revolução Constitucional de 1906 até à atualidade

Um militar ostentando a fotografia de Khomeini numa manifestação junto à embaixada britânica em Teerão, em dezembro de 1979
Kaveh Kazemi/Getty Images

Poucos anos após o lançamento da guerra que espatifou o Iraque, George W. Bush instava displicentemente os iraquianos a move on — esquecerem o passado recente e irem em frente, como se não tivesse sido ele a destruir o futuro de milhões deles. Quando se vive longe das consequências que se provocou, é muito fácil ignorá-las. Em relação ao Irão, um observador exterior também pode achar absurdo lembrar o golpe de estado de 1953 — a primeira grande ação do género promovida pela então jovem CIA — como explicação para o ressentimento persistente contra os EUA. No entanto, lembra Ali M. Ansari, esse golpe, que derrubou o primeiro-ministro responsável pela nacionalização da indústria do petróleo, até então em mãos britânicas, infetou de ilegitimidade a monarquia iraniana e foi, sem dúvida, um dos fatores na revolução de 1979, bem como na subsequente tomada de reféns na embaixada americana em Teerão. Políticos americanos ainda hoje invocam os reféns para justificar medidas contra o Irão, esquecendo a história prévia, incluindo o facto de a CIA ter treinado a SAVAK, a sinistra polícia do xá Reza Pahlavi, conhecida pela brutalidade e pelo uso da tortura. Como noutras situações onde o mais forte impõe as regras, o move on só se aplica ao mais fraco.