Há muitas coisas que não sabemos sobre a vida de Camões. Em contrapartida, sabemos imenso sobre a sua psicologia — se é que sabemos. Nos seus poemas, em especial a lírica, há lamentos sobre amores mal sucedidos, azares da fortuna, desconcertos do mundo, misérias da vida, etc. Que alguns dos versos mais notáveis onde ele exprime esses sentimentos (“o dia em que nasci morra e pereça”, “Alma minha gentil que te partiste”) copiem parcialmente textos preexistentes — seja o livro de Job, poemas de Petrarca ou textos de autores romanos — não exclui forçosamente a autenticidade emocional. Quase toda a gente se lamenta com palavras alheias, de uma forma ou outra. Mas é legítimo especular se não existe às vezes um elemento de encenação literária.
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Camões, que sabemos nós? Duas biografias sobre o prazer, glória e desgraça do poeta
“Fortuna, Caso, Tempo e Sorte”, de Isabel Rui Novo, e “Camões — Vida e Obra”, de Carlos Maria Bobone: duas biografias de Luís de Camões vieram à luz em ano de (presumível) efeméride. Mas como separar a mitologia dos factos?