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Livros: Há um “atlas dos escravos” a mostrar-nos para onde foram as pessoas roubadas

O “Atlas do Comércio Transatlântico de Escravos”, de David Eltis e David Richardson, traz dados claros e implacáveis sobre aquela que foi a maior migração forçada de sempre

As viagens transatlânticas de escravos eram empreendimentos que não estavam ao alcance de qualquer um. Os autores não exageram ao considerá-las representativas do capitalismo moderno
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O percurso típico de um navio esclavagista europeu tinha três partes: viagem da Europa até África, onde se adquiriam os escravos a troco de objetos que podiam ir de copos, panelas e tecidos a brandi, conchas e armas; travessia do oceano até às Américas, onde os escravos eram vendidos e levados para os seus locais de trabalho, às vezes distantes; e regresso à Europa com os lucros do negócio. À segunda viagem chama-se “passagem do meio”. Conforme lembra o presente livro, para os escravos era uma experiência terrível. Amontoados às centenas nos pisos inferiores dos navios, tinham de aguentar cinco, seis ou mais semanas de viagem, presos uns aos outros num espaço reduzido e de teto baixo, entre urina e dejetos e com um risco elevado de doenças, como diarreia, disenteria, escorbuto, tuberculose, apoplexia e “febres malignas”. Dez por cento ou mais dos escravos não sobreviviam à viagem. Aos restantes esperava-os o inferno das plantações, geralmente de cana de açúcar, mas não só, onde os maus-tratos e as condições de trabalho também resultavam numa mortalidade bastante elevada. Convém lembrar que antes de chegarem aos navios eles já tinham sofrido a violência de se verem brutalmente arrancados às suas terras por outros africanos.