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Livros: A Revolução de Abril segundo Maria Velho da Costa

“Cravo” é um conjunto de 22 textos que Maria Velho da Costa publicou em 1976, e que perfazem a sua crónica da Revolução

Maria Velho da Costa morreu em 2020 deixando uma vintena de livros
Arquivo A Capital/IP

Maria Velho da Costa avisa em “Cravo” (1976) que não gosta de cravos, “flor sublinhada, macha, única flor de serrilha e hirsuta”. E que os cravos, polissémicos, podem ser pregos cravados, o cravo bem temperado de Bach, ou os cravos ex-revolucionários, os ex-cravos. Crónica da Revolução em 22 textos, como as crónicas de Fernão Lopes com seu bulício e sua arraia-miúda, “Cravo” tem uma dimensão heróica, outra à clef, outra desconsolada. O percurso começara com as histórias de mulheres “Maina Mendes” (1969) e “Novas Cartas Portuguesas” (1972): “Éramos três mulheres assim, a espiar-se, a brincar de ver o que ia ser tudo.” Já nesses livros a mudança se fizera questão de linguagem. E se a escritora, uma intelectual burguesa, sabe que falar pelo povo pode ser desconfortável, logo mostra que falar pelo povo significa falar a língua dos portugueses em toda a sua amplitude: “Isso é o onde estamos deveras, no haver de retornar a amar passionalmente a língua-pátria que nos fez. Isso, o temor disso, é o que nos dispersa em falsas querelas de escrever para o povo ou fazer arte de arte. Não se escreve para o povo, escreve-se com o povo ou não.”