Se por um lado “Annie John” encaixa perfeitamente na estrutura clássica do bildungsroman, reduzir este livro a uma mera variação desse arquétipo narrativo seria de uma injustiça flagrante, porque a sua riqueza literária não está tanto no modo como descreve o início de uma trajetória existencial, semelhante a tantas outras, mas muito mais na forma como nos transporta, de forma não linear, para as exultações, agruras e angústias do crescimento psicológico. É certo que acompanhamos na totalidade os primeiros anos da protagonista, desde a infância idílica (quase edénica) até aos instintos de rebeldia e turbulência adolescente, culminando no momento exato em que abandona toda a vida anterior, para iniciar o seu caminho enquanto adulta, muito “longe de casa”. O foco de Kincaid, porém, está nos espaços em branco, nas reentrâncias mais sombrias da história, num certo fluxo que está eventualmente para lá das capacidades percetivas da narradora, embora se manifeste com maravilhosa subtileza no tecido da prosa.
Exclusivo
Livros: Annie John, de Jamaica Kincaid, e o dedal que pesa mundos
No romance de estreia de Jamaica Kincaid somos transportados para os fulgores da sua Antígua natal e para os labirintos emocionais da relação entre mãe e filha