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Menos é mais: como o transcendental se exprime no cinema, segundo Paul Schrader

Em “O Estilo Transcendental no Cinema”, Paul Schrader investiga a expressão do sagrado ou transcendente no cinema, tomando como exemplos realizadores como Ozu, Bresson e Dreyer

Stephane Cardinale/Corbis/Getty Images

Educado num calvinismo estrito, Paul Schrader cresceu sem poder ir ao cinema, prazer considerado moralmente suspeito. Mas quando saiu de casa viu muito cinema, que depois estudou na UCLA, e mais tarde tornou-se crítico, argumentista e cineasta. “O Estilo Transcendental no Cinema” (1972) é, nesse sentido, uma forma de justiça poética, uma vez que escolhe como tema o sagrado e o cinema, assuntos que a família dizia inconciliáveis.

Até certo ponto, a família de Schrader tinha razão. Não quanto à imoralidade, conceito inútil em termos estéticos, mas quanto à desconformidade entre o sagrado e o profano. Como escreve Schrader, todas as artes nasceram em sociedades religiosas e estiveram de um modo ou de outro ao serviço da religião durante séculos, ao passo que o cinema, tecnologia moderna, nasceu laico, um espectáculo de feira e uma ilusão lucrativa. Não por acaso, os filmes “bíblicos” e os filmes “devotos” são géneros pífios e atreitos à comédia involuntária.