Podia referir-me ao último romance de Lídia Jorge, privilegiando a distância e a dissemelhança com tudo o que a autora escreveu até chegar e ele, em tempo, espaço e voz: um tempo bizarro, o da pandemia que distorce dias e noites; um espaço concentracionário, em que se replica e multiplica o próprio confinamento; e a voz de uma mãe que nos chega tamborilando cruamente a realidade.
A primeira palavra cabe mesmo a esta mãe, que insistentemente pede que escreva um romance com título preciso, sem contemplações nem amenidades: misericórdia. Numa primeira abordagem, interpretei o pedido como um grito, um clamor vindo da solidão e do desenraizamento da espera. Interroguei a minha leitura: será que Maria Alberta, ou Dona Alberti, conta a sua história ou a de Maria dos Remédios? Será uma autobiografia, uma crónica, um testemunho ou um ajuste de contas com a vida no seu termo?
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