Annie Ernaux define “Os Anos” (2008) como uma “autobiografia impessoal”, mas não se trata aqui daquela impessoalidade autobiográfica do “Léxico Familiar”, de Natalia Ginzburg, onde o “eu” é quase invisível; neste livro, embora se diga “ela” em vez de “eu”, a autobiografia é significativamente mais confessional, ainda que procure confundir-se com as épocas históricas, “os anos”. É como se as recordações individuais emitissem “sinais específicos” que as ligam aos “marcadores de época” e à experiência colectiva. Como se fôssemos, mas não possuíssemos, a nossa circunstância. Isso explica, aliás, a epígrafe de Ortega y Gasset: “A única história que temos é a nossa, e ela não nos pertence.”
Exclusivo
Em “Os Anos”, Annie Ernaux oferece-nos uma “autobiografia impessoal”, escrita na terceira pessoa
“Os Anos”, de Annie Ernaux, é o registo do que já passou, salvando-o do esquecimento. Pedro Mexia escreve sobre o livro da vencedora do Nobel da Literatura 2022