Tudo começa, na verdade, pelas mãos. Nada faria prever esse início de tudo no mundo, de que dependem as mínimas coisas como coçar-se ou levar comida à boca, mudar a página de um livro ou carregar num botão para ligar ou desligar a TV. Ou escrever. Tudo começa no nosso não pensamento sobre uma mão e para o que serve, na normal, despercebida e inconsciente bonança de a poder usar. E pelo que acontece quando, de repente, se torna uma “coisa estranha”, um objeto inerte, rígido e indócil. “Sou um homem sem mãos”, escreve às tantas Hanif Kureishi no livro “Destroçado”, que acabou de ser lançado em Portugal pela Relógio D’Água e no qual o escritor, dramaturgo e argumentista conta aquilo em que a sua vida se transformou desde que, a 26 de dezembro de 2022, um acidente o deixou paralisado.
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“Sou um homem sem mãos”: o grito de raiva e esperança de Hanif Kureishi após a tragédia
Escrito durante um ano em que passou por quatro hospitais em dois países até estar em condições mínimas de regressar a casa, na zona oeste de Londres, “Destroçado” foi ditado a Isabella, a sua atual mulher, e aos filhos. É o primeiro livro do autor de “Intimidade” e “O Buda dos Subúrbios” após o acidente que, em 2022, o deixou paralisado.