A os 23 anos, o primeiro livro de Clarice Lispector caiu como pedrada no charco. Recebeu logo um prémio para melhor romance de estreia da Fundação Graça Aranha, arrecadando boas críticas. Um poeta, Lêdo Ivo, também cronista e tradutor, e que viria a ser membro da Academia Brasileira das Letras, qualificou “Perto do Coração Selvagem” como “a maior novela já escrita por uma mulher em língua portuguesa”. Mas a par da fascinação acontecia também a estranheza — que jamais abandonaria Clarice —, com um outro crítico e escritor, Sérgio Milliet, a aludir ao nome “estranho e desagradável” da autora, “possivelmente um pseudónimo”.
Exclusivo
“Esperar o enredo. Escrever sem prémio. Abolir a crítica que seca tudo”: o que é que Clarice Lispector tem?
Filha de imigrantes judeus ucranianos que fugiram à guerra e à pobreza, enviou uma carta ao presidente brasileiro Getúlio Vargas a pedir-lhe que acelerasse o seu processo de naturalização. Descrevia-se como “uma russa de 21 anos de idade que está no Brasil há 21 anos menos alguns meses”, e que “pensa, fala, escreve e age em português”. Dois anos depois, publicava o primeiro livro. No ano em que se inicia a publicação em Portugal da obra completa de Clarice Lispector (1920-1977), redescobrimos a escritora brasileira que cravava os dedos no pensamento