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“Lá no fundo, todos esperamos que exista um poder superior. Rezar é partir da ideia de que esse poder existe”: falámos com Richard Gere

No filme “Oh, Canada”, exame de consciência de uma personagem com os dias contados, que se estreia em Portugal esta quinta-feira, Paul Schrader reencontra Richard Gere mais de quatro décadas após “American Gigolo”. Conversámos com o realizador e o ator em Cannes

O ator Richard Gere (à esq.), de 75 anos, e o realizador Paul Schrader (à dir.), de 78, no festival de Cannes em 2024
Stephane Cardinale/Corbis/Getty Images

O cineasta e argumentista norte-americano Paul Schrader, com 78 primaveras que dispensam apresentações nestas páginas, vem de uma prodigiosa década criativa que nos deu dois dos melhores filmes americanos nesse período, “No Coração da Escuridão” e “The Card Counter: O Jogador”. Quando comparado com estes, “Oh, Canada” parece a priori música de câmara, trabalho igualmente sério, mas mais recatado, sem a exigência dos anteriores. No papel, temos a história de um realizador de documentários devoto da escola do Cinéma-vérité, Leonard Fife de seu nome, que aceita dar uma entrevista de vida (filmada) já com a morte a bater-lhe à porta. É doente oncológico em fase terminal. Leonard, aprende-se depois, tem queda para a mitomania e criou à sua volta uma bolha de inverdades. A entrevista (em que o documentarista inverte o seu papel) tem, portanto, qualquer coisa de confissão final. A âncora dele é a esposa que é também a sua produtora, pelo menos vinte anos mais nova, Emma. Assim foram as personagens inventadas por Russell Banks em “Foregone”, publicado em 2021 — o dramaturgo morreu (vítima de cancro) no início de 2023.