Exclusivo

Culturas

Sangue e bossa nova: o mistério da morte de um músico brasileiro às mãos da ditadura argentina

Tenório Jr., pianista brasileiro que acompanhava Vinicius e Toquinho, foi assassinado em 1976 às mãos da ditadura militar argentina. A sua história deu origem a um filme de animação que é também documentário. Entrevistámos o realizador de “Mataram o Pianista”

Imagens de Javier Mariscal

O arranque de “Mataram o Pianista” é todo inventado. Na Strand de Nova Iorque, livraria que dispensa apresentações, um certo jornalista musical, Jeff Harris de seu nome (voz de Jeff Goldblum), apaixonado pela bossa nova e pela MPB (música popular brasileira), apresenta um livro que escreveu sobre a sua dedicação àqueles géneros musicais e ao mistério em torno de Francisco Tenório Júnior (1941-1976), pianista que acompanhava habitualmente Vinicius de Moraes e Toquinho na década de 70. Em Buenos Aires, durante uma tournée dos artistas brasileiros ao país vizinho, Tenório Jr. foi raptado sem que até hoje se saiba ao certo porquê, já que não tinha atividade política conhecida. Foi provavelmente confundido com outra pessoa, ou tão-só castigado pela sua farta barba e cabeleira. O rapto aconteceu seis dias antes do Golpe Militar de 24 de março de 1976 e ele seria assassinado três dias depois, às mãos da Junta Militar que tomara o poder na Argentina. Foi morto na ESMA (Escola Superior da Mecânica da Armada), o maior centro clandestino de detenção, tortura e extermínio daquela ditadura. O seu corpo nunca foi encontrado. Aos 35 anos e com um horizonte radioso pela frente, deixou quatro filhos e mulher grávida de uma quinta criança que nasceria pouco depois da sua morte.