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O lápis azul que escondia “o país que não podia vir a público”

A exposição “Proibido por Inconveniente. Materiais das Censuras no Arquivo Ephemera”, patente no antigo edifício do “Diário de Notícias” até 27 de abril, revela de que forma 48 anos de censura procuravam amordaçar o país real. José Pacheco Pereira faz esta visita guiada

Ana Baiao

Cerca de uma dúzia de pessoas passeia por aquela que antes fora a loja do antigo edifício-sede do “Diário de Notícias”, no número 266 da Avenida da Liberdade, para ver vários exemplos daquela “que foi talvez a mais eficaz arma do regime da ditadura”: a censura. Livros, jornais, revistas, ilustrações, discos, filmes e peças de teatro, nada escapava ao poder do lápis azul e vermelho que escondia “o país que não podia vir a público” e pintava “uma imagem de Portugal pacificado, inerte, pouco conflitual, sem grandes violências, mais de bons costumes do que maus”, nas palavras do historiador e ex-eurodeputado José Pacheco Pereira.

A exposição “Proibido por inconveniente. Materiais das Censuras no Arquivo Ephemera”, inaugurada a 7 de abril, tem como objetivo principal mostrar o que é liberdade, pela sua negação, e revela de que forma a censura – instaurada após o golpe de 28 de maio de 1926 e em vigor até 1974 – pretendia amordaçar o país real. Comissariada por Júlia Leitão de Barros e Carlos Nuno, nasce de uma parceria entre a EGEAC e a biblioteca e arquivo de Pacheco Pereira, cujos exemplares foram adquiridos a partir de compra, leilão ou doados por terceiros.