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A Revista do Expresso

Os pêndulos da fortuna. Uma história de 30 anos a fazer listas de bilionários

Desde 1992 que se fazem rankings dos portugueses mais ricos, em que se usaram várias metodologias. Se há fortunas feitas numa geração, com a passagem do tempo impõe-se o fator acumulação e o peso das heranças. Como mostra a grande fortuna destas três décadas, a de Américo Amorim (1934-2017), hoje nas mãos da família

RIQUEZA António Champalimaud pediu para não fazer parte do ranking dos portugueses mais ricos
RUI OCHOA

Filipe S. Fernandes (jornalista, integrou as equipas que, entre 1992 e 2012, fizeram as avaliações dos Mais Ricos em Portugal)

Em fins de julho de 1992, a “Fortuna”, revista mensal de negócios, publicou o primeiro ranking dos bilionários em Portugal, em que se listavam 99 fortunas, 77 das quais quantificadas. Estava-se a seis meses da entrada no mercado único europeu, nas vésperas de uma crise económica, tinham passado 15 anos das nacionalizações, vivia-se em pleno processo de privatizações, que se iniciara em 1988 e que se prolongaria pela década seguinte, tendo sido vendidas pelo Estado mais de 100 empresas, entre bancos, seguradoras, cimentos, telecomunicações, energia, e tinham-se criado entre 1987 a 1989 mais de 200 empresas parabancárias: capital de risco, gestoras de fundos imobiliários.

A primeira lista dos “Mais Ricos de Portugal” foi feita tendo como base de dados o “Duns Pep-Principais Empresas de Portugal”, uma publicação da Dun & Bradstreet, hoje Informa DB, e contou com o apoio prudente e sábio de Leonardo Ferraz de Carvalho (faleceu em 1998), um economista e gestor que conhecia bem os grupos económicos do Estado Novo e os emergentes na democracia. Os primeiros lugares da lista faziam a confluência entre o velho capital, que fora dizimado com as nacionalizações, com o novo capital, que se forjara sobretudo com empresas exportadoras, como se dizia no texto de abertura do artigo: “A par destes velhos senhores, aparecem os novos capitães da indústria.”