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A Revista do Expresso

Como Juan Carlos matou o irmão num palacete no Estoril

Víctor Manuel de Saboya, filho do último rei de Itália e amigo de infância do rei emérito, revela como foi testemunha do homicídio involuntário do filho mais novo dos condes de Barcelona. Um documentário da Netflix reaviva o interesse pela misteriosa morte de Alfonso de Borbón num palacete no Estoril

FAMÍLIA O rei Juan Carlos com a rainha Maria de las Mercedes de Borbón e os quatro filhos. O futuro rei de Espanha, Juan Carlos (9 anos), surge à direita, junto à mãe e às irmãs, Maria del Pilar (11 anos) e Margarita de Espanha (8 anos). À esquerda, perto do pai, está Alfonso de Espanha (6 anos). Fotografia captada no dia 1 de janeiro de 1947 no Estoril

Martín Bianchi (jornalista do “el País”)

ia 29 de março de 1956. A família real espanhola, então no exílio, assiste à missa matutina de Quinta-Feira Santa e comunga na Igreja de Santo António, no Estoril. Após um almoço ligeiro, o conde de Barcelona e Juan Carlos acompanham o infante Alfonso a uma competição no Clube de Golf da localidade. Apesar do mau tempo, o jovem de 14 anos, filho favorito do seu pai, ganha a semifinal. Os Borbóns regressam a sua casa, chamada Villa Giralda. Às seis da tarde assistem a uma missa vespertina e voltam a casa. Um par de horas depois, às oito e meia da noite, o médico da família, o doutor Joaquim Abreu Loureiro, chega de urgência para acorrer a Alfonsito. Loureiro certifica que o menino morreu devido a um ferimento de bala na cabeça. Ao que parece, Juanito, de 18 anos, e Alfonso estavam a praticar a pontaria com um pequeno revólver de calibre 22 na sala de jogos do primeiro piso quando a arma se disparou. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu.

“O silêncio mais absoluto irá rodear os pormenores do funesto acontecimento: a cena do drama continua a ser um mistério e só pode ser objeto de hipóteses”, explica Laurence Debray, biógrafa autorizada do rei emérito, no seu livro “Juan Carlos de España. La biografía más actual del rey” (2014). Existem até cinco versões distintas sobre o que aconteceu naquela noite. O historiador britânico e hispanista Paul Preston recolheu-as no seu livro “Juan Carlos, el rey de un pueblo” (2003).