No momento supremo da cerimónia, o arcebispo de Cantuária pousará solenemente a coroa de santo Eduardo na fronte de Carlos III. Entre fanfarras e vivas ao rei, Carlos de Inglaterra tornar-se-á, sozinho entre os monarcas que restam a Ocidente, aquele que cumpre o imaginário popular ao usar uma coroa, esse símbolo por excelência da autoridade real, ostentado por quase todos os reis e rainhas ao longo de séculos, se não no quotidiano, pelo menos nos momentos mais solenes.
O século XIX viu as últimas coroações em muitos dos velhos reinos. A memória da Revolução Francesa e do peso letal da guilhotina sobre os Bourbons terão empurrado a Europa real para uma existência menos opulenta e mais consentânea com a realidade de que os reis reinam não já pela vontade de Deus, mas apenas enquanto o povo permitir. Não terá ajudado o facto de o próprio herdeiro da revolução, Napoleão Bonaparte, se ter alçado a um trono e se ter coroado numa das mais esplêndidas cerimónias que a História regista — para a qual arrastou o Papa a Paris —, antes de ser remetido ao miserável exílio em Santa Helena.
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