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A Revista do Expresso

Para onde voa a TAP? Só a privatização conseguirá levar a uma boa aterragem

Depois de um annus horribilis, pontuado por críticas ferozes dos sindicatos, uma greve após sete anos de paz social, o esvaziamento de quadros portugueses e uma sucessão de polémicas que levou à demissão de um superministro, a companhia aérea está à procura de um parceiro para se salvar. O futuro mantém-se uma incógnita. E entretanto a empresa afrancesou-se

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No início de junho de 2019, Antonoaldo Neves, então presidente executivo da TAP, escolhido pelo acionista privado norte-americano David Neeleman, foi chamado de urgência ao Ministério das Infraestruturas. O ministro Pedro Nuno Santos estava furioso: tinham sido pagos €1,171 milhões de prémios a 180 trabalhadores, e para o governante, o mais à esquerda do Governo de António Costa, a decisão, tomada pela gestão à revelia do Executivo, era intolerável. A transportadora, então detida em 50,1% pelo Estado, tinha tido um prejuízo de €118 milhões no ano anterior, e era inconcebível que o prémio fosse só para alguns. Houve gritaria.

Os dados estavam lançados. Começavam a ser dados os passos que levariam à renacionalização da transportadora no início do verão de 2020. “A música [na TAP] agora é outra”, dizia Pedro Nuno Santos, a 29 de abril de 2020. A pandemia mantinha então os aviões colados ao chão, e tornava-se evidente que a TAP precisava de ajuda pública — tal como a generalidade das companhias aé­reas — e que os privados sozinhos não a iriam salvar. Ainda nesse dia, o então governante sentenciava: “Se é o povo português que paga, é bom que seja o povo a mandar.” O ministro fazia da TAP o seu estandarte e mostrava ao país e ao partido que não tinha medo de decidir. Era um risco que estava a correr. Pedro Nuno Santos não sabia ainda que o calvário seria longo e que acabaria por ser uma das vítimas da TAP.