O desafio era falar sobre alunos, sobre ensino, sobre escolas. Filipa Cunha é a diretora do projeto Tumo Coimbra, um programa educativo que combina tecnologia com criatividade, e lida com crianças entre os 12 e os 18 anos que em horário pós-escolar frequentam o centro que existe em Coimbra. Sofia Borges é pedagoga e neste momento assume o papel de diretora pedagógica da Brave Generation Academy, um projeto internacional que acolhe alunos dos 12 aos 18 anos.
O debate começou exatamente por avaliar a forma como estamos a ensinar e a passar conhecimento às crianças do século XXI, que, na sua maioria estão integradas num sistema de ensino criado para dar resposta à sociedade que emergiu da revolução industrial.
É por isso que Sofia Borges começa por explicar que temos de trocar a palavra curriculo pela palavra competências.
“É sobre competências que temos de estar a falar e o currículo deve vir como um side dish. Claro que tem de se aprender muitas coisas, mas acima de tudo tem de se aprender a pensar, a desenvolver pensamento crítico, a refletir sobre a informação que estamos a ler. No primeiro ciclo o português deveria ser todo sobre literacia e não sobre os tempos verbais. Sim, eu também posso aprender os tempos verbais, mas posso aprendê-los a ler uma notícia, a trocar ideias sobre um livro”, defende.
Filipa Cunha recebe no Tumo os adolescentes vindos da escola tradicional e identifica duas razões para os alunos não se interessarem por determinada disciplina. “Ou porque não gostam do professor, ou porque não vêem um propósito, porque, dizem ‘é só decorar para o teste’. E por vezes nem a nota é uma boa moeda de troca."
E sobre o facto de não gostarem dos professores, Filipa Cunha deixa um alerta: “Nós não aprendemos com quem não gostamos, portanto não serão pessoas frustradas e infelizes que vão preparar cidadãos para a vida.”
Outro dos temas em cima da mesa é a resiliência e tanto Filipa como Sofia assistem de forma muito crítica à ideia de que se deve punir o falhanço. “É dramática a falta de resiliência, destes alunos. Há uma punição constante sobre o erro. Há alunos que choram porque não conseguiram fazer o exercício à primeira. E nós dizemos, qual é o problema? Erraste? Bem vindo à vida!”, contextualiza Filipa Cunha.
Para Sofia Borges, seria preciso mudar todas as pessoas que neste momento pensam a educação em Portugal e substituí-las por “pedagogos e por professores (não os que continuam a discutir sobre o número de horas e os dias)”. E fazer um caminho novo, da frente para trás: “Temos de perceber que sociedade queremos para depois percebermos como e o que tem de ser ensinado. Esta educação que temos fazia sentido na revolução industrial, mas nós já estamos noutro sítio.”