Portugal é um dos países com maior nível de desigualdade económica da Europa. A situação é histórica, estrutural e, embora as diferenças se tenham atenuado após a crise financeira, a pandemia e a guerra na Ucrânia ditaram uma nova inversão de tendência, que nem o emprego em níveis historicamente altos travou.
Renato do Carmo, professor no ISCTE e Presidente do Observatório das Desigualdades, sublinha que há uma “diferença entre ter emprego e ter emprego com qualidade”. E o aumento da precarização do trabalho, aliado ao custo de vida e ao disparo do custo da habitação está a “tornar a vida nas áreas metropolitanas muito complicada”.
A dificuldade em quebrar este ciclo de desigualdade tem um reflexo inevitável nos percursos de mobilidade social. “Estaríamos numa situação muito pior se não tivéssemos investido na escola pública como investimos”, reconhecem Renato do Carmo e Sara Falcão Casaca, professora no ISEG e presidente do Conselho Económico e Social (CES), mas, embora a escolaridade seja importante, “não é suficiente” para quebrar tendências cristalizadas. “Em Portugal a origem social ainda faz muita diferença”, dizem os sociólogos.
Sara Falcão Casaca destaca a posição particular das mulheres, mais sujeitas à precarização laboral do que os homens e a discriminações nos salários e na carreira.
Balas de prata não há, reconhecem os sociólogos que o Expresso desafiou a serem ministros da Igualdade por um dia, mas se as medidas previstas nos programas eleitorais dos partidos se concretizassem, já seria um grande avanço. Aliás, nem seria preciso ir tão longe: “Se a Estratégia Nacional para a Igualdade e a não Discriminação fosse cabalmente executada, e avaliada, já estaríamos a dar um grande avanço”, atira Sara Falcão Casaca.
Portanto, cumprir a legislação que já existe é fundamental. Tal como o seria a criação de um Ministério da Igualdade… na realidade.