A poucos dias das celebrações do 25 de Abril, a visita de Lula da Silva ao parlamento continua a agitar as águas. Augusto Santos Silva, no podcast “Perguntar Não Ofende” de Daniel Oliveira, defendeu não existir “nenhum problema” com a sessão de boas vindas ao presidente brasileiro coincidir com a sessão solene que assinala o 49.º aniversário da Revolução dos Cravos. “Foi a data em que a agenda do presidente Lula da Silva, do presidente português e do parlamento coincidiram”, justificou. O presidente da Assembleia da República lembrou a existência de um “amplo consenso” na Conferência de Líderes em dedicar uma sessão solene ao atual presidente do Brasil. O mesmo aconteceu para presidentes de países como Angola, França, Itália ou Brasil - com outros presidentes e com o próprio Lula da Silva, no anterior mandato - por serem “especialmente próximos” de Portugal, disse.
“Portugal tem boas tradições. Uma delas é que não há visita de Estado que não inclua um momento no parlamento”, começou por explicar. Este “momento” poderia ser uma “reunião com o presidente do parlamento”, uma "assistência simbólica”, uma "sessão plenária que esteja a decorrer” ou uma "sessão solene de boas vindas”. Esta última foi a opção escolhida e que gerou polémica desde o anúncio de João Cravinho, em Fevereiro. Santos Silva lembrou que existiram “quase duas dezenas” destas cerimónias nos “últimos 20 anos” para receber presidentes de países como Angola, Moçambique ou o próprio Brasil. “Parece-me uma coisa tão simples e evidente. Tenho pena que se tenha transformado num motivo de incidente político”.
Perante as manifestações de descontentamento de partidos como a IL e do Chega - que chegou a declarar a intenção de organizar a ”maior manifestação" contra visita de Lula da Silva -, o presidente da Assembleia da República pediu a todos os deputados “urbanidade” e “cordialidade”. “Os 229 deputados tem o dever de não causar com o seu comportamento o desprestígio da AR. Espero que todos os deputados cumpram esse dever”. Santos Silva alertou para os "mínimos de hospitalidade” que devem ser respeitados. “Se convidamos alguém para a nossa casa, não é para insultá-lo”. Para os descontentes com a visita de Lula da Silva, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros deixou sugestões “cordiais” de mostrar “discordância”. “Mesmo quando queremos exprimir dissonâncias, há formas de o fazer com cordialidade. Como por exemplo, não bater palmas”.
Quanto às últimas declarações de Lula da Silva sobre a guerra da Ucrânia - que defendeu que “os Estados Unidos devem parar de encorajar a guerra" na Ucrânia e “a União Europeia deve começar a falar de paz" - o presidente da AR desvalorizou. “A posição de Lula da Silva quanto à Ucrânia não me incomoda no sentido em que não me incomodam as políticas externas de outros países”, disse a Daniel Oliveira. Apesar de distinguir a posição do Chefe de Estado brasileiro como “não coincidente” com a de Portugal, Santos Silva admitiu a importância de manter o “diálogo” com o “Sul”. “Portugal, sendo um país da NATO e da UE, é aberto ao mundo. E defende que os sistemas de alianças a que pertence dialoguem com o Sul”. Para o socialista, é “importante” que Portugal mantenha o diálogo com países “próximos” - como Brasil, África do Sul, Angola ou Moçambique - sobre temas como a guerra na Ucrânia, ainda que Portugal assuma uma “posição diferente” sobre a mesma.