Numa coisa Marcelo é igual aos que o precederam em Belém: segue - ou diz que segue - aquela “regra” simples de que estando fora do país não fala de assuntos internos. Não quis falar do Orçamento, das diretas no PSD nem de outros temas da política caseira. Deixou a ideia a quem o ouviu de que estava a “recarregar baterias” para ter energia para mais cinco anos em Belém.
Mais tarde repetiu uma frase que já disse muitas vezes, para tentar diminuir o impacto da afirmação anterior: a presidência não é o seu “trabalho” de sonho. Mas, no seu longo discurso diante da comunidade portuguesa em Maputo, Marcelo explicou em detalhe os últimos “três anos e meio, quase quatro” da evolução de Portugal, balizando no tempo a última visita que fez a Moçambique.
Portugal, disse Marcelo, desceu a taxa de desemprego quase para o “pleno emprego” e recuperou a condição de “credibilidade financeira internacional” quando, e vale a pena citar, “passámos de um défice no Orçamento do Estado que estava a ser recuperado mas que ainda existia para um superávite orçamental. E isso não é uma bizantinice.”
António Costa, ao ouvir o resumo das notícias, poderia ter aplaudido o discurso do Presidente. Já o antigo secretário-geral do PSD sob a liderança de Marcelo, agora presidente do partido e recandidato, que votou contra o Orçamento para 2020, e o outro candidato, líder parlamentar no tempo da troika, ficam com pouca margem quando é o presidente a reafirmar que o excedente não é uma “bizantinice”. Claro que Marcelo não estava a comentar o PSD. Estava só a analisar os últimos três anos e meio.
Marcelo é, de facto, igual aos antecessores. Não responde a perguntas sobre assuntos internos, mas fala “de Portugal” nos discursos. E, como já tinha explicado de manhã numa visita a uma exposição sobre a língua portuguesa em Moçambique, “a palavra é tudo”.