Para quem nasceu em meados do século XX, o ano 2000 significava um futuro muito longínquo: quando se queria fazer referência a algo que tardaria em acontecer dizia-se “xii, isso é lá para o ano 2000”. As crianças na década de 70 deliravam com a série de ficção científica Espaço 1999, onde se imaginava que no mundo dali a pouco mais de 25 anos os homens já colonizavam a lua. Menos importância para miúdos (e graúdos) tinham outras profecias, que falavam de catástrofes e apocalipses. Mas à medida que o final do milénio se foi aproximando elas ressurgiram e uma adequada aos novos tempos foi ganhando força: receava-se que o bug informático Y2K pudesse deixar aviões em terra, hospitais sem funcionar, sistemas bancários sem controle, armamento nuclear sem governo, países inteiros sem eletricidade, enfim… o fim do mundo. Assim felizmente não aconteceu e, quase meio século depois, aqui estamos para contar a história.
Resolvido o bug, o ano 2000 prossegue como um ano igual aos outros. A Europa está em choque com o número de votos obtidos pelo partido da Liberdade da Áustria, de Jorg Haider, e pelo facto de a extrema-direita ter assim voltado ao poder num país da União.Em março, o Papa João Paulo II pede perdão pelos erros cometidos pela Igreja Católica nos últimos 2000 anos, entre eles a Inquisição e as Cruzadas. Ainda em março, Vladimir Putin é eleito presidente da Rússia. Em julho, o Concorde da companhia aérea Air France cai pouco depois de levantar voo, matando 113 pessoas e precipitando o fim da carreira da histórica aeronave. Em agosto, o submarino nuclear Kursk afunda-se no mar de Barents. Morrem 118 tripulantes. Em Dezembro, George W. Bush é eleito presidente dos Estados Unidos, vencendo o democrata Al Gore.
Por cá, a primeira edição do Expresso do ano 2000 traz em destaque uma realidade que, 23 anos depois, continua ainda a ser notícia: “Ruptura na justiça criminal”, lê-se em parangonas que se referem ao número astronómico de 132 mil inquéritos parados. Curiosidade: o ministro da Justiça de então era… António Costa. No final de maio, o então presidente dos Estados Unidos Bill Clinton visita Lisboa, trazendo consigo uma comitiva de 1200 pessoas e 12 toneladas de aparelhos de telecomunicações. Numa transferência com tanto de espectacular como de controverso, Luís Figo troca o Barcelona pelo Real Madrid. Em setembro, a TVI estreia o reality show Big Brother, provocando um terremoto no mundo televisivo português. E em novembro o Governo minoritário de António Guterres consegue fazer aprovar o Orçamento do Estado para 2001 com o voto de Daniel Campelo, o deputado do CDS de Ponte de Lima. Fica para os anais como o orçamento do queijo limiano.