Liberdade para Pensar

2001: o terror que mudou o mundo e a culpa que não morreu solteira

2001 foi um ano traumático. Um espetacular atentado terrorista atingiu o coração da América e abanou o mundo. E a queda de uma ponte em Entre os Rios, no norte de Portugal, provocou 59 mortes e a demissão de um ministro que intuiu que a culpa não podia morrer solteira. Para falar do que aprendemos e desaprendemos com o 11 de setembro em Nova Iorque, à luz do terror que hoje está de volta ao Médio Oriente, e também das lições que guardámos da tragédia de Entre os Rios e do que se esqueceu sobre responsabilidade política, juntámos a Carmo Afonso, advogada, comentadora, mulher de causas, de esquerda e de polémicas, e António Martins da Cruz, diplomata, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros num Governo PSD/CDS, e um olhar atento e felino sobre os meandros da política.

Discordaram em quase tudo. Desde a resposta da América ao terrorismo islâmico - Carmo Afonso vê uma política externa norte-americana "que semeia ventos e colhe tempestades", Martins da Cruz considera "óbvio que os EUA não estavam a pedi-las" - até à forma como Biden aconselha Israel a não repetir no conflito com o Hamas o erro americano de se deixar cegar pela raiva - Carmo Afonso aplaude o americano, mas o embaixador diz que "Biden já está em campanha eleitoral". E seguiram como água e azeite a avaliar a América pós 11 de setembro, o 'outro mundo' que se está a organizar com desiquílibrios no xadrês mundial, ou a forma como os novos medos e inseguranças alimentam novas direitas radicais.

TOMAS ALMEIDA
Mais pacífica foi a conversa sobre a responsabilidade política à portuguesa e aqui, num ponto houve consenso: a frase da Procuradora-Geral da República - "Não me sinto responsável" - sobre o processo que decapitou o atual Governo é ... irresponsável. Porque, num Ministério Público "hierarquizado" como o nosso, quem está no topo tem que assumir um "juízo político" do que está em causa.

2001 também assistiu à demissão de António Guterres, para evitar um pântano político no país.
José Sócrates, que era ministro do Ambiente, chumbou a Manhattan de Cacilhas, um projeto que previa para Almada uma torre de 310 metros. João Soares, que presidia à câmara de Lisboa, sonhou com um elevador para o Castelo de S. Jorge que também ficou no papel. E pelas páginas do Expresso ficámos a saber que a nova Lei da programação Militar, que teria sido aprovada por 115 deputados, afinal passou com apenas 70 deputados nas bancadas.
TOMAS ALMEIDA
Numa entrevista ao nosso jornal, Ana Maria Caetano, filha do último primeiro-ministro do antigo regime, contou que na madrugada do dia 25 de abril, ao procurar o pai na residência, descobriu o livro que ele se pusera a ler mal foi informado que a revolução militar estava em marcha. Eis o que lia Caetano: O Manifesto Comunista, que deixou aberto nas páginas sobre "as movimentações de massas".

No panorama televisivo, 2001 viu nascer a SIC Notícias, o primeiro canal português exclusivamente de informação. E assim, nove anos após nascer a SIC, voltávamos a marcar a história da televisão em Portugal.
Mário Henriques