Foz Côa fez várias manchetes do Expresso ao longo de 1995. A primeira, em fevereiro: “Último relatório da UNESCO admite afundar Foz Côa”, lê-se. Nas ruas cresce um movimento civil contra a barragem, a favor das gravuras. Grita-se: “as gravuras não sabem nadar”, num slogan glosado a partir de um rap do grupo português Black Company.
Em abril escreve-se “Foz Coa adiada sine die”. E duas semanas depois, o Presidente da República, Mário Soares, declara ao Expresso: “Obras devem parar”. Em maio,”Procuradoria processa EDP”.
O assunto ainda volta à primeira página por mais três vezes: em junho, quando se noticia que EDP seca o rio Côa para os técnicos do IPPAR poderem estudar as gravuras; em agosto, quando se sabe da descoberta de utensílios paleolíticos na zona; e em novembro, quando o novo Governo encabeçado por António Guterres, realiza um mini Conselho de Ministros em Foz Côa justamente para justificar a decisão de trocar a construção da barragem pela criação do parque arqueológico. Em dezembro, a luta pela preservação das gravuras é eleita pela redação do Expresso como o acontecimento nacional do ano.
1995 é ainda o ano em que Cavaco Silva, pondo fim ao tabu que deixara perdurar desde uma célebre declaração ao Expresso ainda em 1994, anuncia que deixa a liderança do PSD, ao cabo de quase 10 anos. Fernando Nogueira anuncia a candidatura à sua sucessão, Durão Barroso e Pedro Santana Lopes também. Num congresso histórico no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, Nogueira vence por uma vantagem de escassos 33 votos. É ele que perderá para António Guterres nas eleições de 1 de outubro.