Em novembro de 2002 o Expresso noticiara a detenção de Carlos Silvino, Bibi, motorista da Casa Pia, no âmbito de uma investigação judicial que suspeitava da existência de uma rede de pedofilia a partir daquela instituição de acolhimento de menores. Na segunda semana de janeiro de 2003 o país fica estarrecido com as detenções do médico Ferreira Diniz, do advogado Hugo Marçal e do apresentador de televisão Carlos Cruz.
A 24 de maio é preso Paulo Pedroso, então deputado e porta-voz do PS. O procurador Rui Teixeira vai em pessoa ao Parlamento e a detenção é acompanhada em direto.
Paulo Pedroso esteve preso preventivamente durante cerca de 5 meses. Nunca foi julgado e em 2018 o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem (TEDH) condenou o Estado português a pagar-lhe uma indemnização por prisão ilegal, considerando que “não havia suspeitas plausíveis” dos factos por que era acusado.
Mais de sete anos depois do início da investigação, Carlos Cruz e outros 5 arguidos foram condenados a penas de prisão efetiva. Mas também no caso de Carlos Cruz o TEDH veio dar-lhe razão quando ele alegava ter sido impedido de apresentar novas provas para a sua defesa
Mas nem só de Casa Pia se fez o ano de 2003. A 19 de março o presidente dos EUA, George W. Bush, anunciava uma intervenção militar no país de Saddam Hussein, que acusava de apoiar a Al Qaeda - o 11 de setembro tinha acontecido há pouco mais de um ano - e de armazenar armas de destruição maciça - que nunca foram vistas. Três dias antes, Bush estivera na Base das Lajes, na ilha Terceira, nos Açores, juntamente com Tony Blair, primeiro-ministro britânico, e José Maria Aznar, presidente do Governo espanhol, numa cimeira para preparar a intervenção cujo anfitrião foi o chefe do Governo português, Durão Barroso. O papel de Portugal na cimeira haveria de ser muito criticado, sobretudo pela esquerda que, por cá como por todo o mundo, se manifestava contra (nova) guerra no Iraque.
2003 é também um ano histórico para o Expresso que, 30 anos depois da fundação, deixa a redação de sempre, no número 37 da rua Duque de Palmela, em Lisboa, para se fixar em Paço de Arcos, onde hoje ainda se encontra, num edifício que desde 2019 é também a sede da SIC.
2003 é ainda o ano em que morre, aos 59 anos, João Amaral, o rosto dos renovadores comunistas. O ano em que a presidente da Câmara de Felgueiras, Fátima Felgueiras, oportunamente embarca para o Brasil momentos antes de o tribunal ordenar a sua prisão preventiva por envolvimento no caso Saco Azul. O ano em que Isaltino Morais deixa o Governo depois de confrontado pelo jornal Independente com suspeitas de enriquecimento ilícito. E em que outro ministro, Paulo Portas, volta a ser visado na investigação sobre a Universidade Moderna. Agosto fica marcado pela vaga de calor e de incêndios com as habituais acusações às autoridades, de falta de planeamento e coordenação. Em setembro, Cristiano Ronaldo, um miúdo de 18 anos, protagoniza a transferência do ano ao saltar do Sporting para o Manchester United.