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Opinião

A peste negra

A receita de Trump para a liquidação das democracias e do Estado de Direito é hoje uma espécie de manual de conduta de toda a extrema-direita mundial

Vai-me custar muito não voltar a ver Nova Iorque, o Inverno em Nova Iorque, o Thanks Giving, a árvore de Natal do Rockefeller Center, o Calatrava no Ground Zero, as iluminações e as montras de Natal na 5ª Avenida, os almoços na varanda interior da Central Station, os jantares no Village, ou a Frick Collection, um museu à dimensão de que eu gosto. Mas é assim a vida, estou velho para visitar ditaduras ou ver apodrecer por dentro a civilização em que fui baptizado, não me apetece ser recebido numa fronteira de aeroporto por um polícia de fuzil de guerra apontado, como se turista fosse igual a terrorista, e menos ainda acabar deportado para El Salvador ou Guantánamo, onde podem acabar todos os estrangeiros ilegais ou desalinhados com a loucura MAGA. Trump acaba de declarar os antifascistas terroristas e tornou claro, no funeral de Charlie Kirk, que, “ao contrário dele, eu odeio os meus adversários”. J. D. Vance, esse crânio da intelectualidade de direita, convidou os empregadores, os colegas e os vizinhos a denuncia­rem esses antipatriotas, para que o FBI e o desemprego se ocupem deles. O Supremo Tribunal Federal cauciona o despedimento de funcionários públicos por estritas razões políticas e inventou a teoria de que a Justiça não pode, invocando o desrespeito pela Constituição, contrariar o programa político de um Presidente eleito — o que significa o fim da separação de poderes, a morte da Justiça e a inutilidade da Constituição. Tudo substituído por uma ditadura unipessoal de um ser, talvez humano, mas doentiamente perturbado, que fez das suas características conhecidas — soberba, ganância material e crueldade — todo um programa político para consumo interno e exportação planetária. A História já viu semelhante e não foi assim há tanto tempo.