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Opinião

Um cálice de madeira

Francisco morreu na segunda-feira e ficou logo claro que o argentino voador queria um funeral simples e que desejava apenas a inscrição “Franciscus” na pedra tumular

Quando revejo um filme da minha infância com as miúdas, uma certa fagulha pascal é lançada ao ar; é um recomeço, vejo novidades em narrativas que vi dezenas de vezes noutras fases da minha vida. Por exemplo, revi há dias com elas o “Indiana Jones 3”. Continua a ser uma maravilhosa aventura, mas agora há ali outro detalhe, uma mensagem em código que só agora percebo do princípio ao fim de forma racional, um ícone cuja essência só conseguia intuir no passado: o cálice de madeira. Numa larga coleção de cálices, qual será o cálice de Jesus, o filho do carpinteiro? Não, não é o grandioso cálice esculpido em ouro e adornado com rubis, essa é a lógica do mundo dos homens, não do Reino. O cálice certo só pode ser o mais humilde e simples: o de madeira. Vimos o filme no domingo, Francisco morreu na segunda-feira e ficou logo claro que o argentino voador queria um funeral simples e que desejava apenas a inscrição “Franciscus” na pedra tumular. Como viu, sentiu e percebeu a lição teologicamente certeira de um filme de aventuras, a mais velha também percebeu logo o alcance desta simplicidade. Um Papa não vai ao chão como um imperador.