Exclusivo

Opinião

Não matam só mulheres

O modelo de masculinidade dominante — e é preciso insistir que não falamos da masculinidade, mas de um certo modelo dela — não exige apenas poder. Exige lealdade. Exige que se aceite. Que se cale. Que se participe ou, pelo menos, se ignore. E o preço por questionar esse pacto vai de um insulto à morte. Porque, aos olhos de quem nunca se sentiu questionado, qualquer gesto de oposição é traição

Chamava-se Manuel. Tinha 19 anos. Estava num bar da associação académica da Universidade do Minho, em Braga, quando viu um grupo de rapazes a tentar adulterar a bebida de duas raparigas. Avisou o segurança. Pouco depois, foi esfaqueado até à morte. O amigo que o acompanhava, o Rodrigo, também foi atacado. Sobreviveu por pouco. Nenhum dos dois estava no sítio errado. Nenhum dos dois provocou o que aconteceu. Eles eram apenas o intervalo — o breve espaço entre a intenção de um grupo e a vulnerabilidade de outro. A linha humana entre o que podia ter acontecido e o que foi evitado.