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Opinião

A campanha no “beco ético”

Como poderíamos ignorar a falta de ética de Montenegro se é a única razão para sermos obrigados pelo próprio a voltar às urnas? A pergunta não é se acreditamos nele. É se, com estabilidade económica, nos importamos com a vulnerabilidade de quem nos governa

Filas de comentadores pedem, em modo Miss Mundo, uma campanha que não se espoje na “lama”, expressão para o escrutínio às relações financeiras de um primeiro-ministro em exercício com empresas que dependem de decisões do Estado. Isto até seria possível, mas não aconselhável, em eleições normais, mesmo com um candidato sob suspeição. É impossível quando foi o próprio a exigir um plebiscito à sua honestidade. O tema desta campanha são mesmo os “becos de natureza pessoal e ética” de Montenegro, usando um eufemismo do Presidente. E há pelo menos um beco que, vença quem vencer, continua­rá sem saída: nenhum primeiro-ministro pode receber uma avença, diretamente ou através de uma empresa de fachada, ou pode achar que as suas relações empresariais estão defendidas por qualquer tipo de sigilo. A CPI teria servido para que a vitimização em campanha não ocupasse o lugar do escrutínio no Parlamento. E a certeza que o primeiro-ministro iria ser “torrado” é sinal de pouca confiança nos factos e nas provas.