Ainda Estou Aqui”, o filme que deu a Fernanda Torres o Globo de Ouro de Melhor Atriz, conta a história de todas as ditaduras. Baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, fala da sua família, que no início da ditadura militar brasileira dos anos 70 viu o pai, deputado, ser levado pelos militares. Esta trama recorda a de um outro livro que li em 2024 e me afetou profundamente — “Prophet Song”, de Paul Lynch, que inicia a narrativa de modo bastante semelhante. A ideia de um poder cru e arbitrário que chega e, brutalmente, leva uma pessoa querida não sabemos para onde, nem com que motivos, para não mais regressar, gera um terror indescritível. O livro de Paul Lynch é particularmente perturbante por retratar de modo detalhado como o autoritarismo pode afetar as famílias e as instituições, e como os sistemas democráticos podem entrar em colapso face à fragilidade da democracia. É impossível não ler o livro à luz do fenómeno contemporâneo de erosão democrática, ainda que o autor lhe recuse a categoria de romance distópico.
Exclusivo
Ainda estou aqui
As famílias destroçadas pela violência arbitrária do Estado e as memórias partilhadas pelos sobreviventes de Auschwitz recordam-nos que o horror começa sempre com pequenos passos