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Opinião

O acelerador histórico

O ponto disruptivo não é tanto o que nós, enquanto europeus, teremos de fazer; mas o que a Putin, enquanto inimigo, será permitido

Em 1941, a semanas de entrar no segundo ano da Segunda Guerra Mundial, o primeiro-ministro britânico atravessou o oceano para se sentar com o Presidente dos Estados Unidos da América. Fizeram-no a bordo, junto à costa do Canadá. Na viagem até lá, Churchill assistiu a “Citizen Kane” e não gostou. Quando o “Príncipe de Gales”, que o transportou, se aproximou do “USS Augusta”, onde Roosevelt o esperava, cada navio tocou o hino nacional do outro. A Europa continental, de Oslo a Paris, encontrava-se sob domínio nazi. O propósito da reunião, além de desenhar um caminho para a paz, era projetar uma ordem internacional depois dela. Dessa vontade nasceu um documento, a que chamariam “A Carta do Atlântico”, onde assinaram o compromisso de não se expandirem territorialmente, de respeitarem a liberdade e a forma de Governo de cada povo e a promessa de que todos os que haviam sido privados de ambas os veriam reestabelecidos. Sendo que a América ainda não declarara guerra a ninguém, que a Grã-Bretanha era ainda um império e que a Alemanha não deixara de ser senhora da Europa, a Carta aparentava, no mínimo, um excesso de idealismo. O facto é que serviu de berço à arquitetura multilateral que reergueu o Ocidente depois do Holocausto.