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Opinião

Eis o que acontece quando não se percebe Trump

Não se entende porque a elite democrata, nos últimos oito anos, não conseguiu encontrar uma solução para combater a fórmula mágica apoiada no mais profundo nacionalismo e egocentrismo americano

A inesperada vitória de Trump em 2016 foi escalpelizada até ao limite. Foi preciso recuar aos finais da década de 70, altura em que se começou a acentuar a perda relativa de rendimento de milhões de famílias americanas. O tradicional trabalhador das zonas industriais e rurais, cujo rendimento tinha disparado após o fim da II Guerra Mundial, iniciou um período de quatro décadas de constante perda de poder de compra. A globalização, os acordos de comércio internacional e o aparecimento da China como fornecedor do mundo deram início a uma gradual mas longa depressão na grande indústria americana. Ao mesmo tempo iniciou-se o processo inverso para todos os que tiveram a oportunidade de continuar os seus estudos, em particular para quem conseguiu um diploma universitário. Estes, a nova elite norte-americana, viram o seu rendimento disparar. O fosso salarial passou a ser também geracional, no qual os yuppies de Manhattan representavam o expoente máximo. A este acontecimento juntou-se a “insegurança cultural” de uma grande parte da América, que se sentiu excluída à medida que fenómenos sociais de nichos eram tratados como a nova forma de organização da sociedade. Tudo o que era novo e progressista tornou-se símbolo do retrocesso na qualidade de vida. A desigualdade cresceu de tal forma que criou uma enorme fratura. O populismo tinha encontrado o perfeito substrato para crescer.