Os candidatos a ocupar cargos públicos são alvo frequente das maldades da comunicação social, mas há cidadãos preocupados sempre prontos a defendê-los, remetendo doloridas queixas para a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC). Há dois anos referi aqui o caso de André Ventura, que estava inconsolável por não ser convidado para um programa de entretenimento de cujo nome não quero lembrar-me. Apreciando uma queixa, a ERC entendeu recomendar à estação televisiva que emite o tal programa “a necessidade de compensar, se necessário, na restante programação”, o pobre candidato. Na altura registei a bonita formulação “recomendar a necessidade de compensar, se necessário”. Primeiro, porque as necessidades não se costumam recomendar. “Recomendo-te a necessidade de estares calado” é uma frase que continua à espera de ser cunhada — e ainda bem. Segundo, porque a urgência da necessidade era anulada pelo condicional “se necessário”. A ERC deixava claro que só havia necessidade se fosse necessário, e parecia atribuir à estação à qual recomendava necessidade a tarefa de avaliar se essa necessidade era mesmo necessária. Este mês, a ERC pronunciou-se sobre uma entrevista de José Rodrigues dos Santos a Marta Temido, na RTP, durante a campanha para as eleições europeias. Vários cidadãos, tomando as dores da candidata, queixaram-se à ERC da agressividade do entrevistador. A ERC deu razão às queixas: “(…) a análise também permitiu verificar que o jornalista, amiúde, interrompeu a entrevistada, impedindo-a de concluir a sua argumentação (…)”.
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A entidade reguladora não regula bem — parte 2
A deliberação da ERC é um importante alerta para a falta de credibilidade de duas entidades: uma são os nossos ouvidos