Conheci o Pedro Correia, já regressado da sua estadia a Oriente, era ele jornalista. A profissão da sua vida. Foi um jornalista competente. Eficaz. Escrutinador e de uma memória impressionante. E com uma escrita assertiva e cativante.
Conhecia o Pedro quando se tornou bloguista (de blogger). E partilhámos blogs (como o Albergue Espanhol e o Forte Apache). E o Pedro não só foi, como ainda é, um blogger competente. Eficaz. Com uma memória incrível e uma escrita assertiva, cativante e mobilizadora. Considero o Pedro o melhor blogger português. Se algum dia alguém escrever a história da blogosfera portuguesa, o Pedro é incontornável.
Conheci-o enquanto se tornava escritor. Mais uma circunstância em que demonstrou a sua memória admirável. E, claro, especialmente com a sua escrita cativante.
Este texto não é sobre o Pedro. Ou apenas pelo Pedro. Mas não podia deixar de falar dele. De o enaltecer. Não só por uma questão de enquadramento, mas porque é justo.
Ele acaba de publicar um novo livro: Tudo é Tabu, edição Guerra & Paz.
É um livro sobre a Liberdade. Ou melhor, um livro sobre a Vida.
Sem liberdade de falar ou escrever não há liberdade para pensar. O que significa que não há liberdade para criar. Não há liberdade para inovar.
Sem inovação o mundo não avança. E sem liberdade para ouvir, ler ou ver não há verdadeira liberdade para viver.
A liberdade exige o contraditório. Para debater.
Qualquer tentativa de censura, chamem-lhe bloqueio, mitigação, afinação, depuração ou profilaxia, acaba num desejo de ambiente único, de narrativa única. Ou seja, de uma ditadura.
E este livro, Tudo é Tabu, agrega uma diversidade de exemplos…
Da literatura à música. Da pintura ao cinema. Do teatro à estatuária. Da banda desenhada ao cartoonismo (caricaturas). Tanta censura na cultura…
Mas também noutras áreas, do jornalismo à política. Da religião à linguagem. Da comédia ao desporto.
O livro reúne muitos episódios de censura, em vários países. Também em Portugal. O que não deixa de ser uma tentativa de colectivização, fazendo soar alertas aos amantes da liberdade. Desde logo, aos liberais. Num mundo em que assistimos também à multiplicação dos casos de autocensura.
Autênticos processos de autofagia, de auto-contrição, em que alguns pedem desculpa por possuírem determinadas características e terem nascido ou vivido em supostos privilégios.
O fenómeno da censura percorre os séculos, mas nem assim se aprende a lição. Hoje há censuras em novos formatos, caracterizadas pelo revisionismo histórico e em obediência aos dogmas politicamente correctos.
O próprio passado é censurado. Tornou-se moda analisar conteúdos, acontecimentos ou atitudes originadas há dezenas ou centenas de anos à luz da sociedade contemporânea.
Mas se pretender alterar o passado é absurdo, querer lançar novas proibições em temas do nosso tempo é mesmo abstruso. Em colisão frontal com a liberdade de expressão, pedra angular de qualquer sociedade democrática. Por iniciativa daqueles que desejam impor um Ministério do Pensamento, numa lógica totalitária para a qual George Orwell nos advertiu há décadas.
Estes seguidores da tenebrosa escola de Frankfurt (os sucedâneos transformativos do marxismo, em Portugal muito conotados com o Bloco de Esquerda) sabem bem que quem controla a linguagem controla a discussão.
Tudo é Tabu lembra, por exemplo, o que ocorreu com uma peça de Bertolt Brecht, impedida de subir ao palco por “insensibilidade racial”. Não na Alemanha, no tempo do nazismo. Foi mesmo nos EUA (the land of the free), em 2017. Assustador.
A leitura deste livro motiva-me um lamento e um alerta, mas também um alento de esperança.
É lamentável vermos várias personalidades e diversos actores políticos actuais, nomeadamente da esquerda, renegarem a herança de luta pelas liberdades individuais, incluindo a liberdade de expressão. Os que tanto gostam de se proclamar herdeiros do Maio de 68 rapidamente esquecem a máxima “é proibido proibir”.
Nós, os liberais, nunca deixaremos de defender a liberdade de expressão (vide o recente caso na Assembleia da República, onde tivemos felizmente um presidente, José Pedro Aguiar Branco, a sair em defesa de uma super liberdade. Foi bom os liberais não se sentirem isolados na Casa da Democracia).
O alento de esperança, enfim, acontece quando observamos que a história é feita de ciclos. Neste caso, se assistimos agora a uma implosão das liberdades, com o chocante aumento de actos censórios e novas fogueiras acesas para queimar livros alegadamente incómodos, como já sucedeu no Canadá, então só poderá seguir-se um ciclo de reforço da Liberdade.
As ditaduras, com os seus dogmas e os seus tabus, têm de ser vencidas. A história já demonstrou que os sistemas ditatoriais só vergam quando enfrentam forte resistência. Por isso, a partir da leitura deste livro, aquilo que vos digo, aquilo que vos peço, aquilo a que vos desafio é: Resistam!
Texto adaptado da intervenção que fiz na apresentação do livro Tudo é Tabu, a que o autor me deu a honra de ser convidado.
Texto escrito sem acordo ortográfico.