Opinião

Europeias e Portugal

O Governo continua o seu caminho de campanha permanente e de instrumentalização política do Estado

No próximo dia 9 de junho vamos ter eleições europeias. Não querendo usar uma expressão já muito batida, e que se repete a cada ato eleitoral, a verdade é que estas eleições são mesmo muito importantes e decisivas para a Europa e para o seu e o nosso futuro. Umas eleições que podem parecer distantes a uma grande maioria, para além do desconhecimento da população sobre o trabalho efetuado pelos deputados ao Parlamento Europeu.

Como qualquer democrata que se preza de o ser, considero que uma participação eleitoral expressiva é sempre um bom sinal. Contudo, sabemos a dificuldade que é mobilizar para a participação em eleições que parecem muito longínquas, mesmo que, sem a Europa, o nosso país não tivesse o nível de investimento e desenvolvimento que hoje apresenta.

Em Portugal concretizámos um conjunto de inovações neste ato eleitoral para fomentar a ida às urnas. Nestas eleições, de forma inédita, qualquer eleitor pode votar em qualquer mesa de voto e sem inscrição prévia. A possibilidade do voto antecipado mantém-se. Mas, pela primeira vez, os cadernos eleitorais são digitais, apontando o caminho para o voto eletrónico. Pessoalmente, defendo o voto eletrónico como sendo o futuro, desde que estejam garantidas a segurança, a igualdade de acesso e a integridade do processo.

A integração europeia é central para o nosso país, e hoje é relativamente consensual, mas não podemos esquecer que nem sempre foi assim. Mário Soares, o pioneiro com a cimeira a “A Europa Connosco” em 1976, quando o PS colocou no seu programa eleitoral a adesão, teve de enfrentar nesse momento muitos dos que duvidavam e colocavam entraves ao processo de construção europeia. Mário Soares estava certo, como aliás esteve sempre nos principais desafios do país, algo que muito poucos podem dizer. A cimeira com a participação de nomes como Willy Brandt, François Mitterrand, Bruno Kreisky, Felipe Gonzalez ou Olaf Palme ficaria para a História, e começou a mudar a forma como a comunidade internacional passou a olhar para o nosso país.

Estas eleições são também centrais pelo seu enquadramento. O contexto internacional da guerra na Ucrânia, as eleições americanas, o conflito no Médio Oriente, os desafios do alargamento e da coesão são muito claros. No contexto nacional e europeu, o crescimento da extrema-direita e o avanço do populismo precisa de ser travado.

A nível nacional, a lista do Partido Socialista é indiscutivelmente a mais forte. Uma lista liderada por uma mulher que conferiu à gestão da saúde, especialmente durante a pandemia, uma sensibilidade e firmeza que os portugueses não esquecem. Tentar comparar a confiança que Marta Temido dá aos portugueses em relação a qualquer outro cabeça de lista, é um erro e quase uma desfaçatez.

E quem está em melhores condições de travar a extrema-direita? A AD é integrante do PPE que apoia a recandidatura de Ursula von der Leyen a presidente da comissão. Uma candidata que demonstra que não terá problemas em estabelecer pontes com o populismo extremista de direita se isso lhe garantir a reeleição. Mesmo reconhecendo a boa resposta à pandemia, a atual Presidente da Comissão Europeia é alguém recheada de polémicas e que foi conhecida como uma má ministra da defesa na Alemanha, tendo-se transformado em 2019 num caso de gestão interna da CDU alemã.

Paralelamente, o Governo continua o seu caminho de campanha permanente e de instrumentalização política do Estado. A nível da campanha permanente, chega mesmo ao ponto de não cumprir as recomendações da CNE – Comissão Nacional de Eleições, utilizando este período eleitoral para anúncios, inaugurações e muito marketing de medidas. Uma falta de ética republicana, a todos os títulos condenável.

Esse facto demonstra que não estamos perante um Governo de confiança. Tal como as constantes demissões, exonerações e saneamentos de dirigentes da Administração Pública ou de organismos estatais, ocorrendo a última à hora a que escrevo este artigo, a da administração da AICEP, agência nuclear para alavancar a economia portuguesa, e onde os empresários com projetos de investimento no nosso território ou com vontade de internacionalização querem é estabilidade. E quem trata assim quem investe ou se internacionaliza, não tem certamente a melhor visão para a Europa.