O Chega era uma hecatombe previsível, talvez de dimensões ainda maiores do que o esperado, porque parece ter sido o principal motor para a queda da abstenção. Sobre as razões para este resultado, terei de escrever outro texto, com dados mais finos e ponderados dos resultados eleitorais – de onde veio exatamente aquele voto?
Há três dados incontornáveis: a esquerda tem o seu pior resultado de sempre, a AD tem uma vitória de Pirro (menos percentagem do que o PSD e o CDS juntos nas últimas eleições) e o PS tem uma derrota clara (sobretudo quando veio de uma maioria absoluta), ficando quase empatado com a AD.
O essencial é isto: a AD não consegue formar maioria sem o Chega e o PS, apesar de toda a esquerda ter mais do que a AD com a IL, não consegue formar uma “geringonça”. O debate sobre a tomada de posse de Luís Montenegro é o mais simples e o menos relevante. Basta que a esquerda não apresente qualquer moção de rejeição do programa para esse problema não ser um problema. A questão é, como me fartei de escrever, a viabilização do governo. Ou seja: a aprovação do Orçamento de Estado. Sendo certo que há um Orçamento em vigor e quem o aprovou não tem qualquer dever de o retificar, é no fim do ano que a questão se põe.
A pressão do centro-direita é e será a que se espera: que seja o Partido Socialista a viabilizar os governos de Luís Montenegro com Rui Rocha, uma situação absolutamente contranatura. Como ficou evidente no discurso de Luís Montenegro, quando deixou claro, com toda a legitimidade da vitória estreita (que a sua “alegria contagiante” demonstrou), que era o seu programa, oposto ao socialista, que ia ser aplicado.