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Opinião

Um país do outro mundo

É interessante tentar perceber a razão deste silêncio sobre o mundo, como se Portugal tivesse voltado aos tempos do “orgulhosamente sós”, não fosse membro ativo da UE e da NATO

É muito importante que se discutam os impostos, a habitação, a saúde, a educação, a agricultura; é até significativo que se ponha os olhos em quem mente, quem promete sem qualquer suporte para o que diz, quem mais insulta e interrompe; é, porventura, interessante ouvir os comentadores, tanto os que se debruçam sobre os conteúdos como os que dão atenção às atitudes, aos modos de estar, às aparências de mais ou menos tranquilidade e nervosismo. Porém, quem quiser sublinhar uma originalidade portuguesa pode notar esta: nenhum candidato e praticamente nenhum comentador fala do que nos rodeia; do perigo de guerra; das ameaças de Putin; da barbárie do Médio Oriente; da incrível ameaça que é Trump. Nem sequer das crises em Espanha e em França e em inúmeros outros países da Europa. Porquê? É interessante tentar perceber a razão deste silêncio sobre o mundo, como se Portugal tivesse voltado aos tempos do “orgulhosamente sós”, não fosse membro ativo da UE e da NATO e, por essa via — gostem ou não determinadas forças —, inimigo de Putin, dos radicais islâmicos e até dos “ultras” israelitas. É um país de que a China obrigatoriamente desconfia e que em África e na América do Sul, onde poderia encontrar alguma boa vontade, também é visto como parte de um todo mais vasto, que o chamado “Sul Global” (que, na verdade, não existe e ainda menos é global) quer contrariar.