Exclusivo

Opinião

A estatística é a que uma pessoa quiser

Analisar dados estatísticos é normal e legítimo. Questionar o INE de forma grosseira, como o Ministério da Educação, nem por isso

São escassas as oportunidades que temos para esmiuçar metodologias estatísticas. É pena porque, num país onde a literacia matemática está longe de impressionar, seria um excelente contributo. Devemos, por isso, agradecer ao Ministério da Educação, que nos deu um motivo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) sobre o abandono escolar. A história conta-se em poucas linhas: o INE divulgou na semana passada os resultados do inquérito trimestral ao emprego. Juntamente com indicadores tradicionais para os três últimos meses de 2023 e para o conjunto do ano, como a população ativa ou a taxa de desemprego, publicou também estimativas para a taxa de abandono escolar, que cresceu para 8% no ano passado depois de dois anos a descer e sempre abaixo de 7%. Na nota de avaliação aos números que publicou, o Ministério da Educação decidiu omitir 2021 e 2022 e comparar 2023 diretamente com 2020 para assegurar que a descida se mantinha. E fê-lo por questionar a validade das estatísticas do INE, “tendo em conta que o método de recolha, apenas por telefone”, “terá levado a uma subestimação do valor”. Dando a ideia, sem o dizer, que, se bem calculadas as taxas, o abandono escolar até teria continuado a crescer.