Existem, ainda que mais ou menos ténues, clivagens entre partidos na sua acção governativa em política externa, não apenas apresentando diferentes propostas nesta área, mas também com decisão e implementação diferente. E assim, ao contrário do que normalmente acontece nas campanhas eleitorais, a política externa, incluindo também as questões europeias, e a segurança e defesa internacionais, merecem atenção e discussão, especialmente pelo difícil contexto internacional em que Portugal se insere.
A política externa dos partidos de centro-direita, conservadores, ou democratas-cristãos, tende para uma visão mais realista, que, não ignorando os valores a promover, coloca sobretudo nos pratos da balança os interesses nacionais, seus e dos demais. Num mundo em que todos os estados e actores internacionais têm uma estratégia, assente nos seus próprios objectivos, uma estratégia impreparada ou mal delineada pode ser tão perniciosa como não ter estratégia nenhuma. Na política externa historicamente seguida por partidos mais à direita, em particular no caso português, existe uma maior defesa das relações bilaterais, nomeadamente com parceiros fundamentais como os EUA, e da NATO como elemento fundamental da segurança e defesa de Portugal e da Europa, com um menor peso (mas não ignorando) às relações multilaterais.
Assim, um primeiro objectivo que deverá nortear a política externa será uma definição clara e inequívoca dos interesses nacionais. Ao contrário do que possa parecer pela omnipresença de interesses que não os nacionais – alguns especialmente louváveis, como globais, mas outros de grupo, sejam ocidentais, europeus, etc., e todos difíceis de definir – uma política externa para a AD deverá passar pelo regresso da centralidade dos interesses nacionais à formulação e execução da política externa de Portugal. Portugal está inserido num quadro multilateral que lhe dá vantagens significativas no quadro internacional, quer pela presença na União Europeia ou na NATO, mas tal não pode ser sinónimo de uma minimização dos interesses nacionais em prol dos objectivos ou interesses de outros.
Em segundo lugar, este foco nos interesses nacionais, se é natural em relações bilaterais, pode e deve estar presente nas relações multilaterais, onde Portugal encontra desafios crescentes. A atenção da União Europeia e da NATO à Europa de Leste, promovida por esses estados, quer os que são membros quer os que procuram ser, é legítima e deve ser considerada. Todavia, tal pode colocar sérios desafios a Portugal. Uma União Europeia voltada a Leste terá menor interesse na América Latina ou em África, para lá do impacto que as adesões poderão vir a ter nos fundos europeus, essenciais para a economia portuguesa. Tal traduz-se numa avaliação rigorosa mas justa das condições para adesão dos candidatos, garantindo que cumprem os critérios para entrada num bloco económico tão exigente, e que não há um enfraquecimento do instrumento do alargamento/adesão por conta de motivações políticas imediatas. A adesão é a melhor ferramenta que a União Europeia possui, mas exige um uso parcimonioso e correcto para manter a sua enorme eficácia na moldagem do comportamento nos novos membros. Algo idêntico podemos assinalar relativamente à NATO, em que uma maior centralidade a Leste vai significar uma menor atenção, nomeadamente de recursos e vontade política, relativamente à segurança do Flanco Sul, seja ao Mediterrâneo, ao Norte de África, ao Sahel ou ao Médio Oriente, com desafios crescentes e que preocupam os estados da Europa do Sul. Portugal tem, nesta matéria, pressionado e liderado a NATO, de forma adequada, na elaboração de uma estratégia para o Flanco Sul, posição que deverá manter num contexto de crescente competição estratégica nestes espaços.
Por fim, mas não menos importante, a centralidade da diplomacia económica e da internacionalização da economia portuguesa. Este tem que ser um objectivo charneira de um governo AD, que permita um incremento do investimento estrangeiro, das exportações, e que apoie as empresas portuguesas nesse desígnio. Assim, cabe repensar a tutela política da diplomacia económica e que papel com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e o Ministério da Economia, avaliar a necessidade de diplomatas económicos ou do reforço da preparação económica dos diplomatas portugueses e a articulação no terreno entre actores diplomáticos e técnicos, bem como dotar as duas agências fundamentais do estado nesta área, a AICEP e o IAPMEI, dos meios humanos, técnicos e financeiros necessários para um desígnio desta natureza. Os governos PSD-CDS foram centrais para que a diplomacia económica se tornasse um elemento basilar da política externa de Portugal, procurando em cada dimensão desta salientar os objectivos económicos a cumprir, e o estado tem executado um papel facilitador importante, ainda que os estudos de opinião a empresários (Estudo da Estrutura Diplomática Portuguesa, Univ. Autónoma, 2019) mostrem que faltam meios e capacidade técnica para um apoio mais incisivo que poderia catapultar o potencial internacional de muitas das nossas pequenas e médias empresas.