Tendo em conta a tendência previsível de declínio a longo prazo do crescimento económico e os desafios prementes colocados pelo envelhecimento das populações, pela transição climática e pela digitalização, a OCDE veio defender a necessidade de reformas estruturais ambiciosas para revigorar o crescimento e melhorar a sua qualidade. E destaca algumas propostas para os países, como o reforço do investimento e da participação da força de trabalho, com tónica no apoio à inovação e na melhoria do desenvolvimento de competências para incrementar as perspetivas de produtividade e maximizar os ganhos da transformação digital. Estratégias bastante em linha com as grandes tendências que os analistas têm identificado para este ano, como a expansão da inteligência artificial generativa.
Há anos que as empresas e a Administração Pública (AP) têm vindo a apostar na transformação digital, mas, segundo os especialistas e até o senso comum, há um elemento que faz a diferença nos seus resultados: os trabalhadores têm de estar a bordo porque são eles que tiram todo o partido da tecnologia digital para transformar o funcionamento das suas organizações.
E porque estou a falar deste tema neste momento? Porque os partidos já se mobilizam para os combates eleitorais do ano e todos apresentam as suas propostas para a Administração Pública. Alguns acenando com uma mítica reforma que ainda não terá sido feita. O PS, fiel à sua opção histórica de transformar a AP por dentro, defendendo um conjunto vasto de medidas que visam continuar a aprofundar a capacidade de inovação a partir das pessoas que nela trabalham.
O PS sabe que a AP é fundamental para a qualidade da governação, não só para o funcionamento das instituições, mas também para os resultados das políticas públicas num Estado social com futuro. Por isso, os governos do PS têm utilizado o digital para transformar a educação, a prestação de cuidados de saúde, criar novas formas de atendimento público à distância de um smartphone, e até envolver cidadãos e residentes, abrindo os processos de governação de forma participativa. Nos últimos anos, procurando já incorporar soluções de Inteligência Artificial para analisar grandes volumes de dados e desenhar respostas personalizadas aos cidadãos, abrindo um imenso campo de oportunidades para melhorar o funcionamento dos serviços públicos.
Mas os governos do PS também sabem que o poder transformador do digital reside nas pessoas, nos trabalhadores e nas suas lideranças. Por isso, antes que muitos spin doctors se apressem a requentar a conversa da alegada falta de reformas estruturais no nosso país, a começar pela reforma do Estado e da Administração Pública, deixemos os pontos nos ii. Existe um caminho percorrido com sucesso, com valorização de rendimentos e de perspetivas de carreira na AP. E existe um caminho que devemos continuar a percorrer, para desenvolver um sistema de emprego público equitativo e mobilizador, que dê ferramentas aos gestores de pessoas na Administração Pública para gerir uma força de trabalho multigeracional e que assegure o futuro para as novas gerações de trabalhadores, sempre no quadro da Agenda para o Trabalho Digno.
As propostas para a AP e os seus trabalhadores têm necessariamente de ir além de garantir um salário digno ou rever a carreira A ou B. Têm de incluir medidas para garantir percursos profissionais atrativos para todas as pessoas. Percursos que implicam tanto progressão horizontal como em diagonal nas suas carreiras. Uma crescente participação dos trabalhadores nas decisões. Uma experiência de trabalho adequada às necessidades individuais, por exemplo, em termos de horário e outros mecanismos de conciliação com a vida pessoal. Medidas de promoção da saúde ocupacional incluindo o tema da saúde mental. E, naturalmente, prosseguir a capacitação dos trabalhadores para o futuro do trabalho, para que nenhum trabalhador fique para trás e para que a Administração Pública tenha resiliência, capacidade de resposta rápida em situações de emergência e também capacidade de se transformar para inovar nas respostas em antecipação a futuros problemas.
O início do ano é sempre um momento em que consultores, académicos e muitos curiosos se esforçam por antever os acontecimentos dos próximos meses. Mas se é muito difícil fazer previsões, especialmente sobre o futuro, como terá afirmado Niels Bohr, também é verdade que podemos controlar pelo menos parte do caminho. E esse caminho tem de ser feito com propostas conscientes, que não se alimentam de frases feitas nem de ideias pré-concebidas, mas do conhecimento do terreno, das expetativas dos trabalhadores e das medidas que, combinadas, têm efeito transformador. Isso sim, é garantir uma transformação estrutural com efeito prático, na vida dos trabalhadores da AP e da sociedade que esta serve.