Há uns meses esteve na moda — justificadamente, atenção — dizer à direita portuguesa que deveria estar atenta ao fracasso da estratégia da sua congénere espanhola, que apostou tudo na guerra cultural contra a esquerda para perder a corrida eleitoral, na reta da meta, por causa da sua radicalização e associação a um partido da extrema-direita que a maior parte do eleitorado rejeitava.
Hoje justifica-se dizer que a esquerda portuguesa não está a prestar atenção à outra metade da lição das eleições espanholas, a saber: que foi possível extrair uma vitória por uma unha negra principalmente por causa da capacidade de cada partido progressista em mobilizar ou segurar o seu eleitorado, demonstrando capacidade de trabalhar em conjunto com os outros partidos progressistas no futuro. Em Portugal ainda temos à esquerda uma barreira cultural, que a ‘geringonça’ não resolveu e que o fim da ‘geringonça’ até agravou, em olhar descomplexadamente para uma realidade de qualquer democracia plural: toda a política é política de alianças. Esta dificuldade em aceitar esse facto simples — que a direita toma com naturalidade — pode ser fatal no próximo dia 10 de março, a não ser que seja corrigida a tempo.