Opinião

Pedro Nuno Santos, por um futuro merecido

Estamos num momento perigoso para a democracia. Temos de proteger as conquistas destes últimos anos e ir mais além na resolução muitíssimo difícil dos problemas da habitação, da saúde ou dos salários

Como já referi, considero terrivelmente injusta a forma como ocorreu a demissão de António Costa. Foi um choque. O dia daquele comunicado de imprensa da PGR, com um último parágrafo vago sobre o primeiro-ministro é, objetivamente, um trauma. Os acontecimentos são conhecidos e, infelizmente, no PS, somos chamados a escolher.

Devemos muito a António Costa. As pessoas lembram-se dos horrores que foram vociferados contra a Geringonça e de como esse governo do PS, com o apoio da esquerda parlamentar é, até hoje, altamente apreciado em todos os estudos de opinião. Vivemos em harmonia institucional, paz social e o país ficou mais justo e mais igual. Ganhámos prestígio internacional, equilibrámos as contas que a direita deixou tortas apesar de tantos orçamentos retificativos, devolvemos direitos e consagrámos direitos.

De 2015 até agora certamente foram cometidos erros, mas foi com António Costa como primeiro-ministro, quer com o rasgo político e histórico que foi a Geringonça, quer sem o apoio parlamentar à esquerda, que o salário mínimo nacional foi aumentado em 50% e que assistimos a uma redução do desemprego de 12% para 6,1%. A população empregada está hoje em máximos históricos. As pensões, desde 2016, aumentaram 23%.

Foi com António Costa que todas as pessoas entraram no arco-íris da igualdade. Todas. É por isso que tendo António Costa sido primeiro-ministro durante uma pandemia (e durante uma guerra), sublinhei várias vezes que a democracia não é uma conquista irreversível, pelo que era muito bom ver no nosso Governo a atuação dos democratas e no PS o espaço de liberdade e de segurança para todas as pessoas. É exatamente isso que o fascismo ou a extrema-direita abomina: a liberdade e a segurança de todos, porque as quer só para alguns.

O PS é, pois, um espaço de liberdade e de segurança para todas as pessoas. Não deixa ninguém para trás. Assente nos valores da liberdade e da igualdade, numa política de “libertação” das desvantagens socioeconómicas, não esquece direitos civis, não esquece as mulheres, as pessoas racializadas e pessoas LGBTI.

Estamos num momento perigoso para a democracia. Temos de proteger as conquistas destes últimos anos e ir mais além na resolução muitíssimo difícil dos problemas da habitação, da saúde ou dos salários. Um partido que conseguiu, no Governo, ultrapassar os seus objetivos orçamentais em ritmo e em dose (temos excedente) não pode permitir que o cansaço e a desesperança de muitos (que se entende) seja campo fértil para fazer vender a destruição de abril; isto é, a destruição do SNS, da escola pública ou da segurança social, nomeadamente com as “máximas” dos liberais portugueses da “liberdade de escolha” e do “menos Estado”. O Estado somos nós, temos de reavivar a cultura de comunidade. O Estado não é uma abstração a que se atira setas como que a um inimigo extrativo. O Estado é a comunidade organizada que assim consegue que ninguém deixe de ser tratado num hospital.

Pedro Nuno Santos (PNS) foi claro a desmistificar a falsa ideia dos moderados e dos radicais no PS. O alegado radicalismo de PNS surgiu na semântica da direita e em alguma comunicação social. PNS é um social-democrata. Foi ministro dos assuntos parlamentares no Governo da geringonça, um ótimo ministro, numa pasta que exigia recato, diálogo permanente, cautela, ponderação e maturidade. E conseguiu. Assim foi num governo que para alguns foi uma experiência radical, mas isso faria de António Costa um radical. PNS foi um ótimo ministro das infraestruturas, tendo conseguido fazer aprovar o plano de reestruturarão da TAP que tantos diziam ser tarefa impossível. Hoje a TAP é uma empresa saudável a dar lucro e o que correu mal a PNS foi pelo próprio assumido, sem hesitação, qualidade que prezo na política. PNS é uma pessoa carismática não porque “parece qualquer coisa”, mas porque se vê na sua palavra e nos seus atos a enorme capacidade de decidir, de fazer, de pensar o tal país do abril que merecemos, aglomerando gente de proveniências diferentes e apresentar resultados. Com as suas cicatrizes e falhas, percebe-se nele a angústia de não ver feito no país o que reunia todas as condições para ter sido feito.

É por isto tudo que apoio PNS. Quero preservar o presente abruptamente interrompido e assim feito herança, mas quero mais do que o presente. Quero o futuro que todos e todas merecemos, um abril inabalável, quero que o PS seja liderado pela marca da ação e da coragem.