Há sempre três tempos orçamentais: o do anúncio, que espraia felicidade; o da realidade, quando nos chegam as questões essenciais da vida; e o da realização. A realização é como no cartaz da parede da tasca, volte amanhã que vai ter o hospital prometido, não está bom de ver que falta parque habitacional público? — eflúvios de Estado responsável pululam no relatório. De tão habituados à farsa do investimento público estratégico, já nem se duvida de que os Orçamentos convivem com a ilusão.
Antes vem o anúncio, o momento Branca de Neve. É dominado pela agenda do Governo, que vai pingando exemplos de como a nossa vida será melhor e deslumbrando comentadores fáceis: impostos minguantes, chuvas de dinheiro, pensões confortáveis. No entanto, há este ano uma particularidade, de que o Governo cuida minuciosamente: a preparação das eleições europeias. Ouça o ministro a falar de jovens, classes médias e reformados e terá o mapa do medo do PS: é nesses três grupos sociais que quer recuperar perdas. Quer tranquilizar os pensionistas depois de os ter apavorado com a ameaça de corte futuro de pensões (ainda é ministra a que apresentou no ano passado uma conta falsificada para garantir que, se a lei da atualização das pensões pela inflação fosse cumprida, se perderiam 13 anos de sustentabilidade do sistema, o que Costa repetiu enfaticamente?). Aos jovens oferece tudo o que veio à cabeça de algum guru de comunicação, as tais propinas devolvidas post cursum, bilhetes para comboios e turismo local, imposto zero no primeiro ano, só falta o palco da JMJ. A ideia é que, capturando a agenda do PSD e dos liberais, as eleições ficam no papo, o Livre proporá uns estudos e abster-se-á, o PAN andará pelo Funchal e tudo igual no quartel-general.