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Opinião

Margarida Amaral

1928-2023 Com uma carreira com mais de 50 anos, começou no Rádio Clube Português e foi a primeira artista a cantar nas emissões experimentais da RTP

É uma evidência que o tempo passa e que a pessoa que aprendemos a reconhecer ao longo da vida sofre as mudanças naturais do envelhecimento. Há quem se reconheça até muito tarde, mantendo uma espécie de eterna juventude ou incapacidade de tomar a devida distância entre o futuro que não se sabe e o passado que já lá vai. É na capacidade de nos distanciarmos para identificar a mudança ao ponto de ficarmos embasbacados a olhar para fotografias nossas de meninos e meninas que fomos que está o humor.

Margarida Amaral, desaparecida há dias com 95 anos, passou mais 50 da sua vida adulta a cantar primeiro na rádio e depois na televisão nacional. No programa “Heranças de Ouro”, na RTP Memória, em 2007, Margarida conta a Maria João Gama que tem uma fotografia em fato de banho num móvel no corredor. A rir, diz que sempre que passa por ali e repara na fotografia, pergunta: “Mas quem é esta pessoa?”, mostrando desta forma coquete à entrevistadora que sempre foi linda, que sabia que o era, mas que aceita, bem-humorada, a passagem do tempo. Os elogios da entrevistadora pretendem consolar, mas não é preciso. Margarida em 2007 é uma mulher feliz e isso nota-se no modo generoso e aberto com que participa num programa de que gosta por ser para “os artistas velhotes”.