Quis o acaso que fosse na manhã de sábado, no dia da manifestação da habitação. Um homem abordou-me na rua, educado e desesperado, para me dizer que ele e a mulher estavam desde quarta-feira sem teto. Ambos empregados na restauração, ele empregado de mesa e ela copeira, pagavam 600 euros por um quarto num bairro no norte da capital. Sem contrato — foi o que se conseguiu arranjar. E, portanto, sem proteção quando chegou o ultimato que os deixou na rua a ambos, os seus 20 sacos de pertences, duas malas, a televisão, as roupas e até a gatinha na sua caixa.
Depois de dois dias de uma solução de improviso, foi na segunda-feira que a equipa de rua da Comunidade Vida e Paz, depois de contactos com a Estratégia Nacional para a Integração das Pessoas Sem-Abrigo e com a Câmara Municipal, lhes deu a notícia de que havia um quarto para eles, para a gatinha, para as suas coisas. Não uma solução definitiva; mas pelo menos uma hipótese de poderem reencontrar o seu caminho.