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Opinião

O grande assalto

Com políticas de contenção salarial e descontrolo do aumento das margens de lucro, assistimos à aceleração da transferência de rendimento de baixo para cima. Quem espera que o BCE reaja antes do assalto terminar é melhor sentar-se

Enquanto os franceses fazem greves gerais para impedir uma reforma da segurança social que, ainda assim, os deixaria melhor do que nós, as televisões portuguesas dedicam-se a longas reportagens sobre o transtorno provocado pelas greves da CP. A greve é tratada como uma anomalia. Mas o que seria normal, perante a uma crise inflacionista que desvaloriza radicalmente os rendimentos dos trabalhadores, era que as greves alastrassem aos privados. A anomalia não está nas greves dos professores, por exemplo, está nos professores dos colégios privados, que em média ganham menos e trabalham mais, não se sentirem seguros e livres para a fazerem. Apesar de Portugal ser dos países da Europa ocidental onde o número de greves é mais baixo, elas têm caído, nas duas últimas décadas, em todo o continente. Porque a liberalização do mercado de trabalho tem deixado a democracia à porta das empresas. O efeito está à vista: na crise inflacionista da década de 70, os trabalhadores europeus ficavam com 70% do produto, hoje ficam com 56%.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.