Opinião

Energias renováveis: o caminho para combater a inflação

Portugal é um dos países com maior capacidade para liderar a transição energética. A sua relevância estende-se ao seu potencial para quebrar a dependência dos combustíveis fósseis, uma das razões que tem provocado o aumento da inflação e do custo de vida em toda a Europa

Com o início da Guerra na Ucrânia, o debate em torno da independência energética da Europa voltou a intensificar-se, em particular devido à necessidade de encontrar soluções inovadoras que permitam contornar a dependência que hoje existe.

Há muito se sabe que as energias renováveis desempenham um papel fundamental na segurança e independência energéticas. Segundo a Agência Internacional de Energia, Portugal é um dos países com maior capacidade para liderar a transição energética. Porém, agora, a sua relevância estende-se ao seu potencial para quebrar a dependência dos combustíveis fósseis, uma das razões que tem provocado o aumento da inflação e, consequentemente, do custo de vida em toda a Europa.

Se olharmos para o contexto histórico desde a Segunda Guerra Mundial, percebemos que os dois choques inflacionistas: a crise do petróleo dos anos 70 e a crise desencadeada pela guerra na Ucrânia, foram, ambos, em grande parte causados pelo acesso limitado aos combustíveis fósseis, tendo posto em evidência a frágil segurança energética da Europa. Assim, é evidente que precisamos urgentemente de remover as barreiras que impedem a rápida implantação de novas capacidades de produção, de modo a que possam ser construídas instalações de armazenamento de energia limpa e baterias.

Não devemos simplificar demasiado as causas da inflação, que podem ser influenciadas por uma série de fatores, incluindo a disponibilização de moeda, o mercado de trabalho ou os constrangimentos nas cadeias de abastecimento. No entanto, os combustíveis fósseis têm sido demasiadas vezes um gatilho. Pela primeira vez temos uma alternativa com a qual podemos contar para apoiar a alteração da situação: as: as energias renováveis.

Imaginemos este cenário: uma rede de tecnologia de produção de energia limpa interligada em todo o continente poderia gerar energia renovável a baixo custo para todos na Europa. A combinação desta rede com um novo sistema de armazenamento com baterias permitiria assegurar um abastecimento fiável, mesmo quando o sol é limitado ou o vento deixa de soprar. Durante a noite, o tal sistema poderia transmitir energia das centrais hidroelétricas norueguesas para a Europa Central e complementá-la com energia de parques eólicos terrestres em países como Portugal e Grécia, bem como de turbinas offshore em muitas regiões. E durante o dia, seria a energia solar de lugares como o Alentejo, a Andaluzia e a Baviera a ser transmitida para o sistema aberto.

Embora isto seja uma simplificação, o resultado seria uma rede de energia altamente eficiente, de baixo custo, amiga do clima e garantia de soberania para a Europa.

Talvez seja necessário repensar a nossa infraestrutura energética, dados os planos para uma eletrificação generalizada, mas, se quisermos alcançar este tipo de estratégia inovadora de energia, as energias renováveis devem ser declaradas 'infraestruturas críticas’.

As energias renováveis já são a forma mais barata de energia, mas existe frequentemente uma falta de compreensão do papel crucial que desempenham no sucesso económico. As medidas atuais para limitar os preços da energia e proteger os consumidores do aumento do preço do gás estão a reduzir o investimento precisamente no momento em que precisamos de mais capacidade de geração.

Perante uma situação como a que vivemos, é essencial alterar o enquadramento legislativo, centralizar a tomada de decisões e ganhar o apoio das comunidades que serão afetadas por novos projetos renováveis. Soluções sensatas para responder, não só à crise energética, mas também aos desafios ecológicos, tais como o impacto na vida selvagem.

Em toda a Europa é necessário um processo simplificado de licenciamento para ajudar os países a acelerar rapidamente a construção de infraestruturas renováveis.

Vemos com esperança e satisfação os passos que o Governo português tem dado nesta matéria, mas gostaríamos que isso não afete a ambição de continuar a apostar inequivocamente neste tipo de energias. Portugal tem uma oportunidade de ouro de se posicionar cada vez mais na Europa como um dos principais produtores de energias limpas - e essas energias podem beneficiar toda a União.

Fica assim evidente que a produção de energia renovável pode desempenhar um papel importante na resposta ao desafio da inflação na Europa. Os seus contributos são gratuitos e sem limites em toda a Europa. Para ter sucesso, a indústria não requer subsídios ou apoio, apenas necessita de um mercado livre e justo, livre de intervenções governamentais, associado a um licenciamento fácil e rápido.